Não escrevi o texto abaixo mas gostaria de ter escrito.
Retirei do site Mais de Trinta. Quem quiser olhar direto no site segue o endereço: http://maisdetrinta.com.br/colunistas/dando-ferias-para-o-coracao/
Voltar a estar solteiro depois dos trinta anos é uma situação para lá de estranha. As coisas parecem não se encaixar de jeito algum. Falta algo que não sei explicar muito bem. É uma mistura de duas sensações complexas: a de liberdade e a de fragilidade.
Repare que toda vez que um relacionamento acaba é como se você tivesse tirado um peso das costas. Por outro lado, a solidão te deixa como cachorro que caiu da mudança, sem saber para onde ir e o que fazer.
É claro que todos sabemos que o inverno não será eterno, mas mesmo assim é difícil lidar com a perspectiva aberta de um novo futuro.
Fiz um pequeno repasse na minha vida afetiva e tive uma revelação não muito agradável. Entre encontros e desencontros, nunca fiquei só. Desde os meus quatorze anos venho emendando uma relação em outra, com pouquíssimo espaço de tempo entre elas.
Não é que eu tenha escolhido esse caminho conscientemente. Longe disso. As coisas simplesmente acontecem. Toda vez que fico solteiro é como se um grande luminoso — escrito “Há vagas” — fosse ligado bem em cima da minha cabeça.
Sei muito bem que não sou um exemplo da beleza comercial, mas isso parece não importar muito para o tipo de mulher com quem me relaciono. Não estou fazendo uma crítica a quem prefira uma barriga de tanquinho às minhas características, todo mundo tem o direito de gostar e se sentir atraído por quem achar melhor.
É muito difícil escrever sobre o assédio constante que sofro por parte da mulherada. Pode soar um tanto quanto arrogante. Mas é a verdade, por mais incrível que pareça. Em alguns momentos até eu me questiono dos motivos que me colocam bem posicionado na prateleira.
Graças a essa chuva constante de propostas, sempre acabei dizendo sim e voltando a namorar rapidamente após cada término.
Eu simplesmente adoro vida de casal! Nunca gostei de sair a noite, costumo dormir cedo, trabalho muito, não bebo, não fumo e gosto de conhecer a pessoa com quem durmo. Como você pode observar, não sirvo para ser solteiro. Me sinto um E.T. quando acontece.
Considerando o grande volume de mulheres que têm acesso ao meu conteúdo, alguém com outra visão de mundo, em meu lugar, passaria o rodo geral. Eu prefiro me abster e evitar a fadiga, como diria o carteiro Jaiminho.
Acontece que talvez tenha chegado a minha hora de dar uma parada, fazer uma pausa na vida afetiva, dar férias ao coração.
São muitos anos ininterruptos de relacionamentos consecutivos. Muitas histórias, momentos de alegria e de tristeza. Nisso sempre fechei com o Roberto Carlos (se eu chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi), porém, notei que um problema grave acontece nessa rotina. Não limpamos o paladar entre uma relação e outra!
Acabamos trazendo o passado para o presente, até porque não demos tempo suficiente para que ele se assentasse em seu devido lugar. Ok, e qual o problema com isso?
Explico. Quando você sai de uma relação, vários laços de confiança, intimidade e parceria estavam estabelecidos. Por pior que seja o término do relacionamento, é inegável que você tenha gerado e recebido créditos com a pessoa que estava.
Na nova relação isso não existe. Você chega zerado. Precisa conquistar a outra pessoa e, claro, ser conquistado. É aí que o problema mora.
Quando não há tempo para que você se acostume a ser um ninguém na fila do pão francês, você chega cheio de marra, parecendo que está com os créditos gerados da relação anterior. É um copo cheio que precisa ser esvaziado.
O conflito acaba sendo inevitável e há uma grande chance da nova investida ser mal sucedida, o que te levará de volta ao círculo vicioso.
Não sei por quanto tempo conseguirei permanecer solteiro, será um grande desafio para a minha personalidade, mas tentarei ficar pelo menos seis meses, pois vejo que é necessário.
Se vai dar certo, confesso que não faço a menor ideia, mas acredito que a experiência poderá me dar novas perspectivas e ampliar a noção que tenho sobre mim.
Segundo Hermann Hesse, escritor alemão, solidão é o modo que o destino encontra de levar o homem a si mesmo. Eu voltei para a prateleira, porém, bem lá no alto, só para admirar o público fazendo compras.
Até mais.
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