quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

|Na Natureza Selvagem|

Roteiro e direção: Sean Pen

Baseado na Obra de: Jon Krakauer (Into the Wild)

Elenco: Emile Hirsch (Christopher McCandless), Marcia Gay Harden (Billie McCandless), William Hurt (Walt McCandless), Jena Malone (Carine McCandless), Brian Dierker (Rainey), Catherine Keener (Jan Burres), Vince Vaughn (Wayne Westerberg), Kristen Stewart (Tracy), Hal Holbrook (Ron Franz), Zach Galifianakis (Kevin)

Duração: 140 min.

Gênero: Drama/Aventura

Christopher Johnson McCandless nasceu em 1968 e cresceu no estado da Virginia, EUA. Filho de um engenheiro da NASA, ele sempre se destacou por sua habilidade atlética e um certo isolamento, que se traduziu num crescente descontentamento com a situação social nos EUA. Em 1990, inspirado pelos trabalhos de escritores como Jack London, Leon Tolstoi e Henry David Thoreau, largou tudo após concluir a universidade, doou suas economias para a caridade e se tornou um andarilho, assumindo a alcunha de Alexander Supertramp. Viajou pelos EUA, alternando períodos na estrada e trabalhos temporários. Sua peregrinação culminou em uma viagem para o Alasca, onde pretendia viver da terra em um estado de isolamento e contemplação.

A história real de Christopher McCandless se tornou o livro “Na Natureza Selvagem”, de Jon Krakauer, em 1997. Dez anos depois, o ator e diretor Sean Penn reacende a lenda deste jovem, neste belíssimo e emocionante drama. O filme traz um magro e barbudo Emile Hirsch (“Os Reis de Dogtown”, “Alpha Dog”) como protagonista, quase irreconhecível para quem se lembra de seu papel como o garoto de “Show de Vizinha”, de 2004. “Acho que eu tinha uns 9 anos quando passou um programa na televisão e eu fui cativado e fascinado pela história desse cara que foi para o Alasca”- lembra-se Hirsch - “Aquilo me impactou profundamente quando eu era criança. Depois que Sean me ofereceu o papel e eu li o livro, aquelas emoções voltaram com tudo.”. Tentando recriar a personalidade forte e decidida de Chris, Hirsch faz um trabalho impecável e merece cada um dos muitos elogios que recebeu de público e crítica por sua atuação. Também espanta a seriedade de seu treinamento físico: para filmar as cenas no Alasca, o ator de apenas 22 anos chegou a perder 15 quilos, atingindo o peso de 52 Kg (ele tem 1,70 m).

Eu poderia dizer que a presença dominante de Emile Hirsch, entremeada por uma narração quase poética, carrega o filme, mas isso seria uma grandíssima injustiça em relação a todos os outros envolvidos no trabalho, em especial com o veterano Hal Holbrook. Holbrook interpreta Ron Franz, um viúvo e veterano de guerra que conhece Chris durante suas viagens e por algum tempo convive com o andarilho, ensinando-lhe sobre sua profissão. Ron, assim como tantos outros no caminho de Chris, vive à margem da sociedade, isolado em um mundo particular. O momento da despedida entre ele e o jovem idealista é o momento mais emocionante do filme, tanto que Hal Holbrook foi indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante em 2008. Outros atores também marcam presença no longa: William Hurt e Marcia Gay Harden fazem os papéis dos pais de Chris e servem como vínculo do andarilho ao seu passado; a jovem Jena Malone interpreta Carine, a irmã de Chris, e faz muitas das narrações do filme, contando um pouco do passado dos dois irmãos. Uma surpresa entre os coadjuvantes é Brian Dierker, treinador de Hirsch nas cenas com caiaque, que acabou sendo convencido por Sean Penn a interpretar Rainey, um hippie que viaja pelas estradas em seu trailer com a parceira Jan, vivida pela atriz Catherine Keener. Outro nome que merece ser mencionado é o da bela Kristen Stewart, interpretando uma adolescente no acampamento de trailers de Slab City que se apaixona pelo espírito aventureiro de Chris.

Desde o lançamento do livro de Krakauer, Sean Penn buscava uma oportunidade para obter os direitos de filmagem da história. Foram tantos anos até a família MacCandless se sentir preparada para reviver aquele período em suas vidas, que quando o projeto recebeu o sinal verde, Penn já sabia exatamente como fazer seu filme. “Era como se Sean tivesse pensado no filme durante todos aqueles dez anos. Tudo aquilo simplesmente começou a sair porque o filme inteiro já estava dentro dele antes mesmo de Sean escrever uma página” comenta Art Linson, produtor do filme. Isso fez com que Sean Penn tivesse tempo para fazer escolhas muito específicas para a produção. Para a cinematografia, que envolveria muitas paisagens naturais e deveria tentar transmitir o sentimento de assombro de Chris em relação à natureza, o diretor procurou Eric Gautier, diretor de fotografia em “Diários de Motocicleta”, de Walter Salles. Nas palavras de Sean Penn: “Eu conversei com Walter Salles, quem eu conheço e respeito muito, e ele começou a falar sem parar como Eric era excelente e um verdadeiro artista e tal... e ouvir isso de Walter foi uma coisa e tanto... Eu sinto que fui muito sortudo, pois este é o cara com quem quero fazer todos os meus próximos trabalhos”. Não só na identidade visual de “Na Natureza Selvagem” vemos o cuidado de Sean Penn. O diretor também queria que o filme tivesse uma identidade musical única e acabou procurando Eddie Vedder, ex-vocalista do Pearl Jam, para complementar a trilha sonora para a película. O compositor já conhecia Penn desde seu trabalho na trilha sonora de “Os Últimos Passos de um Homem” e não hesitou em participar do projeto. Vedder compôs várias das canções originais do filme, tocando ele mesmo todos os instrumentos em muitas das composições. O estilo rústico das músicas e a voz de Vedder caem como uma luva no ritmo e na fotografia do filme, criando uma trilha sonora marcante e que não deveria ter ficado de fora do Oscar de 2008. A impressão realmente é de que a música de Vedder ajuda a contar a história e mergulha nos pensamentos de Chris à medida que este atravessa os EUA.

É difícil não ser repetitivo ao elogiar “Na Natureza Selvagem”. Um trabalho que mostra uma grande maturidade artística de Sean Penn como diretor e roteirista e uma produção impecável, com atuações emocionantes, é o mínimo a se dizer. Dizer que o filme além de belo traz uma profunda reflexão sobre nosso papel na sociedade também seria apenas tocar a superfície de “Na Natureza Selvagem”. Mas nesse ponto acaba a crítica cinematográfica e começa a filosofia, então prefiro deixá-los com o filme e com suas próprias reflexões.

Gustavo Catão

Antes do fim:

O filme é espetacular. Não sei porque demorei tanto para assistir. Deve ser por culpa dessa demora que assisti o filme duas vezes seguidas. A jornada do protagonista deveria ser obrigatória para todas as pessoas, afinal quem não quer encontrar o seu Alaska?


19038

Um comentário:

mulher de sardas disse...

Bah, eu adorei o filme, mas tô fora dessa de encontrar o meu Alaska e acabar num estado tão deplorável que nem um urso quer mordiscar.

Essa coisa meio Buda de rasgar dinheiro e virar mártir não é pra mim.

Tem que ficar e lutar. Ficar e mudar.

Mas tudo bem, as paisagens valeram qualquer coisa.

Beijooo!