segunda-feira, 28 de maio de 2012

Cinco lições do Guia do Mochileiro das Galáxias para a vida profissional

Obra escrita por Douglas Adams faz representações metafóricas e profundas sobre a vida real, as situações que enfrentamos, as hierarquias e as firulas sem sentido da sociedade

 

"Muito além dos confins inexplorados da região mais brega da Borda Ocidental desta Galáxia, há um pequeno sol amarelo e esquecido. Girando em torno deste sol, a uma distância de cerca de 148 milhões de quilômetros, há um planetinha verde-azulado absolutamente insignificante, cujas formas de vida, descendentes de primatas, são tão extraordinariamente primitivas que ainda acham que relógios digitais ainda são uma grande ideia".

Essas são as primeiras linhas da bíblia dos nerds. Ela não fala sobre criação, cosmogonia nem tem um timbre religioso. Mas mesmo assim conseguiu arrebanhar milhões de adeptos mundo afora, com várias características em comum, que encontraram nos escritos a sabedoria para formar uma identidade e reclamar seu lugar no mundo. E é um lugar bem ambicioso... tipo o que é ocupado por executivos e presidentes.

O primeiro livro da série "O Mochileiro das Galáxias" foi escrito em 1978 pelo britânico - mas nada fleumático - Douglas Adams. Na verdade não era para ser um livro, e sim uma série radiofônica, mas depois virou livro. E embora alguns críticos considerem que a saga termina no quarto volume ("Até mais, e obrigado pelos peixes"), outros admitem que "Praticamente inofensiva" é uma parte integrante da famigerada série. E um sexto livro apócrifo, escrito após a morte de Adams por Eoin Coifer ("E tem outra coisa"), almejou juntar-se ao panteão. Enfim, é um pouco complicado explicar, só entende quem lê.

Em linhas gerais, a obra, apesar de esbanjar uma carga considerável de ironia e ter como palco nada menos do que o Universo, faz representações metafóricas profundas sobre a vida real, as situações que enfrentamos, as hierarquias e as firulas sem sentido da sociedade. É como se observássemos de fora como as coisas acontecem no planetinha verde-azulado, cujos habitantes não estão nem aí para o que acontece fora dele, e quem está fora tampouco se importa muito com a Terra - a ponto de demoli-la para construir uma via expressa hiperespacial (uma catástrofe terrível e idiota).

A partir da experiência de um olhar externo, existem algumas lições que podem ser encaixadas no cabedal de competências de um bom administrador. Vou relatar aqui pelo menos cinco e vou deixar que os leitores façam as demais considerações após a leitura da série "O Mochileiro das Galáxias".

 

1. Tenha sempre uma toalha a tiracolo

 

A toalha é o item mais precioso para um bom mochileiro, que não pode contar muito com itens pesados e de utilização complexa em lugares de difícil sobrevivência.

"[...] você pode usar a toalha como agasalho quando atravessar as frias luas de Beta de Jagla; pode deitar-se sobre ela nas reluzentes praias de areia marmórea de Santragino V, respirando os inebriantes vapores marítimos; você pode dormir debaixo dela sob as estrelas que brilham avermelhadas no mundo desértico de Kakrafoon; pode usá-la como vela para descer numa minijangada as águas lentas e pesadas do rio Moth; pode umedecê-la e utilizá-la para lutar em um combate corpo a corpo; enrolá-la em torno da cabeça para proteger-se de emanações tóxicas ou para evitar o olhar da Terrível Besta Voraz de Traal (animal estonteantemente burro, que acha que, se você não pode vê-lo, ele também não pode ver você - estúpido feito uma anta, mas muito, muito voraz); você pode agitar a toalha em situações de emergência para pedir socorro; e, naturalmente, pode usá-la para enxugar-se com ela se ainda estiver razoavelmente limpa".

Um administrador mochileiro deve sempre contar com algo que lhe será útil em todas as ocasiões: o próprio conhecimento. Não aquele conhecimento especializado, segmentado e fatiado, mas o conhecimento generalista e contextualizado, que lhe permita se sair bem em todas as ocasiões - mesmo as mais perigosas e cruciais para a carreira. Não que devamos abrir mão de nossas especialidades, mas não é sempre que elas vão livrar a nossa cara. Em algumas situações, tudo o que você vai ter à disposição é uma toalha e a criatividade.

 

2. Não entre em pânico

 

Essa frase está estampada em letras garrafais no Guia do Mochileiro das Galáxias. Nunca se sabe o que se pode encontrar na amplitude do Universo, portanto qualquer coisa pode surpreender. Numa hora você pode estar diante de três copos de cerveja em um bar qualquer, e na outra pode estar a bordo de uma nave vogon - e sem nenhuma cortesia.

"Parecia um aparelho absurdamente complicado, e esse era um dos motivos pelos quais a capa plástica do dispositivo trazia a frase NÃO ENTRE EM PÂNICO em letras grandes e amigáveis".

                O administrador pode ser convidado a conhecer novas tecnologias, pode estar diante de situações completamente desconhecidas, pode ter de lidar com o cliente mais ignorante do pedaço - se ele for competente, pode até ser chamado na sala do presidente da empresa para um bate-papo ou para uma reunião estratégica do Conselho de Administração. Em todo caso, tenha a sua toalha à mão e não entre em pânico.

 

3. Respostas são insignificantes para as perguntas erradas

 

42. De acordo com o Pensador Profundo, essa é a Resposta fundamental sobre a Vida, o Universo e Tudo Mais. Mas desde quando isso é uma pergunta?

"- Ó Pensador Profundo, a tarefa que lhe cabe assumir é a seguinte: queremos que nos diga... - fez uma pausa e concluiu: - ...a Resposta!

- A Resposta? - repetiu Pensador Profundo. - Resposta a que pergunta?

- A Vida! - exclamou Fook.

- O Universo! - disse Lunkwill.

- E tudo o mais! - exclamaram em uníssono. Pensador Profundo fez uma pausa para refletir.

- Essa é fogo - disse, finalmente."

A Resposta foi dada sete milhões e quinhentos mil anos depois, e não era nada satisfatória. É comum a busca cotidiana por respostas: todos os dias trabalhamos procurando por respostas sem sequer conhecermos - ou formularmos - as perguntas. Quando se dá conta disso, percebe-se que ir atrás da pergunta correta por si só traz muitas respostas. Se o administrador não reflete sobre a sua atividade, sobre o seu trabalho, sobre o que está norteando a sua carreira, ele não passa de um técnico operacional que trabalha burocraticamente em prol de um salário no final do mês, benefícios e folgas nos fins de semana e feriados. E, com isso, torna-se um profissional capacitado, mas infeliz, tal como o robô maníaco-depressivo Marvin.

 

4. Relaxe e tome uma Dinamite Pangalática

 

"O Guia do Mochileiro das Galáxias também menciona o álcool. Diz que o melhor drinque que existe é a Dinamite Pangaláctica. Afirma que o efeito de beber uma Dinamite Pangaláctica é como ter seu cérebro esmagado por uma fatia de limão colocada em volta de uma grande barra de ouro".

O lazer é tão essencial que pode ser considerado um arquétipo. Todo mundo merece ter o seu "shabat". Mas muita gente diz que o mundo atual é uma correria, que aqueles que dormem serão passados para trás, que bons profissionais não conhecem o fim de semana e tal. Bem, eu digo que o excesso de foco e de esforço não só é improdutivo como também prejudicial para a saúde e para a carreira.

As melhores ideias vêm durante um happy hour, ou após uma noite de sono bem dormida, durante um bate-papo despretensioso ou até mesmo no trânsito. Aquela solução que fez você se debruçar durante horas sobre papeis, documentos e internet para achá-la, geralmente só aparece depois de um momento de sossego. Não há vergonha em descansar, tomar um drinque e ficar de pernas para cima.

 

5. Nunca... nunca volte para pegar a bolsa

 

"Ao entrar no elevador, Tricia percebeu que estava levemente preocupada por ter esquecido a bolsa no quarto e pensou se devia voltar depressa e apanhá-la. Não. Provavelmente estaria mais segura lá dentro e, de qualquer forma, não havia nada na bolsa que ela estivesse precisando. Deixou a porta fechar-se atrás de si. Além do mais, repetiu para si mesma, respirando fundo, se havia uma coisa que a vida a ensinara era isso: nunca volte para buscar a sua bolsa".

As melhores oportunidades podem ser desperdiçadas quando você percebe que esqueceu algo e volta para buscar. Voltar para buscar aquele curso de inglês quando há uma oportunidade de fazer um intercâmbio, para fazer outra graduação por achar que "essa não é bem o que eu queria" ou - literalmente - voltar para apanhar a bolsa, podem ser um revés grave na carreira. Em vez de viajar pelas galáxias, o profissional pode viver fadado a rotinas chatas em empresas que não gosta para poder dar o leite do filho no final do dia. Tudo por causa de uma oportunidade de ouro perdida.

Lembre-se de que a única coisa que você precisa é a toalha - se você estiver sem ela e precisar voltar para buscá-la, então você é um péssimo mochileiro. Ao aparecer uma chance de sair do lugar, esqueça o que ficou para trás e prossiga sem pestanejar. Qual a diferença que uma bolsa fará quando você estiver a bordo de uma nave movida a um gerador de improbabilidade infinita?

 

 

Por Eber Freitas, www.administradores.com.br


segunda-feira, 19 de março de 2012

Quem realmente sabe das coisas

Somos 7 bilhões respirando sobre a superfície do planeta. Toda essa gente. De algum modo, inexplicável. Dias atrás, li na coluna do Paulo Sant’Ana que um médico lhe disse que beber refrigerante e cerveja faz mal. Certo, disso todo mundo já sabia. Mas o médico também disse que suco de frutas engorda, o que eu até havia lido em algum lugar, em outra oportunidade. Só que, para arrematar, o médico revelou que a água mineral faz mal. Que bem mesmo só o que faz é uma certa água ionizada, que não sei o que é nem onde se encontra. Considerando que nosso corpo é composto 70% por água, estamos muito mal. Eu, pelo menos, eu que ingiro pouco refrigerante, verdade, mas que consumo hectolitros de chope cremoso e gelado e dourado, e que bebo água sem que alguém a ionize preventivamente, eu devo estar mal. Os outros seis bilhões, novecentos e noventa e nove milhões, novecentos e noventa e nove mil, novecentos e noventa e nove colegas de viagem pela Terra, também, suponho, pois duvido que muitos desses bebam apenas a tal água ionizada, tenho que achar isso em algum lugar.

Os que comem carne vermelha estão pior ainda, que carne vermelha faz muito mal. Os que se alimentam com carboidratos provavelmente estão deste tamanho. Pão branco? Nem pensar. Frituras? Afaste-se delas. Embutidos? Veneno puro. Açúcar causa cáries, mas adoçantes podem desenvolver câncer. Portanto, melhor não adoçar o café. Aliás, melhor não beber café, que tira o sono. Chá preto também tem cafeína e vinho tinto escurece os dentes. Saladas verdes não são boas para a digestão, chimarrão muito quente acaba em câncer no esôfago, feijão produz flatulência, que aumenta o buraco na camada de ozônio, que queima a pele, que fica com melanoma. Por sinal, é importante lembrar que o sol é responsável por 70% do envelhecimento da pele e a idade por 30%. Então, melhor não tomar sol e, quando sair de casa, o ideal é untar o corpo todo com protetor solar fator 60. O ar poluído das cidades modernas é terrível para os pulmões e, se o sedentarismo é mortal, a verdade irrecorrível é que correr pode estourar com as articulações, ainda que o corredor calce tênis com suspensão a ar.

Em resumo: beber, comer, tomar sol, respirar, ficar parado e correr, tudo isso faz mal à saúde. Some-se a esses perigos os trilhões de bactérias e vírus que estão em toda parte, até no recôndito das nossas entranhas, mais as guerras, os assaltos à mão armada, os acidentes de trânsito, os afogamentos, os incêndios, as quedas por diversas razões, as intempéries e as vinganças de cornos brabos, e o que resta é a perplexidade: como continuamos vivos e aos bilhões e cada vez em maior número?

Neste ponto, chegamos ao centro de tudo: a popularidade do sexo. Se, por algum motivo, as pessoas abandonassem a prática do sexo, logo deixaríamos de existir e cumpriríamos a receita para a felicidade prescrita pelo grande Schopenhauer: a extinção progressiva e indolor da Humanidade através da não reprodução. A castidade, tão pia, tão cristã, nos daria, a nós, terráqueos, a oportunidade de sumir lentamente do Universo. Logo, não haveria mais um único de nós, como já não há dinossauros, pássaros dodôs e hobbits. Seria a realização gloriosa dos ecologistas.

Mas, não. Nós não pensamos no bem comum, não pensamos na saúde do planeta, nós continuamos teimosamente nos reproduzindo. Olhe em volta: há gente por todo lado. Olhe mais adiante, para o além-mar: para a Índia, onde há um bilhão de seres humanos, para a China, onde há outro bilhão e meio. Ninguém se reproduz tanto quanto chineses e indianos. O que nos leva à inevitável conclusão de que em nenhuma outra parte do mundo o sexo é tão popular quanto na China e na Índia. Em outras palavras: nós, brasileiros, com nossa fama de liberais, com nossas mulheres dentro de biquínis mínimos ondulando feito serpentes douradas pelas franjas do litoral, nós que inventamos o motel para fins recreativos, nós que a cada fevereiro explodimos na orgia do Carnaval, nós com nossos travestis famosos no Bois de Bologne, nós com nossos malandros gingados, nossos lupanares feéricos, nossas mulheres-frutas, nós somos bandeirantes virginais perto de chineses e indianos. Quem sabe de sexo é o chinês com seus olhos amendoados, é o indiano detrás de seu bigode. Nós, não. Nós somos amadores; eles, profissionais.

Depois que descobrimos que a sede do verdadeiro futebol-arte é

Texto publicado no Zero Hora de ontem, 17/03/2012 na coluna do David Coimbra.

 

quinta-feira, 8 de março de 2012

Casais que abdicaram de ter filhos

Mulheres revelam preconceito de que são alvo quando dizem que não serão mães

 

Lá se vão três décadas desde que a escritora feminista e historiadora Elizabeth Badinter colocou contra a parede a certeza de que toda mulher deseja ser mãe. Em L'amor en plus, que no Brasil ganhou o título de Um amor conquistado: o mito do amor materno (Ed. Nova Fronteira), a pesquisadora mostrou dados históricos que balançaram a relação mãe e filho.

 

A maternidade seria uma construção social e não um desejo natural. O livro é considerado um desaforo por conservadores que acreditam ser o instinto materno algo inquestionável. Mesmo assim, a discussão não cessou. Pelo contrário, a voz da autora francesa se juntou a de outras mulheres que reavaliaram a maternidade como uma dádiva.

 

A partir da década de 1990, mais brasileiros têm repensando o combo casamento + filhos. Não só por uma questão financeira, uma vez que os gastos com apenas um filho pode corresponder a 40% do orçamento familiar, segundo o educador financeiro Reinaldo Domingos, mas simplesmente porque a vinda do primogênito não está nos planos. As razões são diversas e apontam para um caminho ainda visto com certo preconceito.

 

Piscina gelada

A metáfora do servidor público Hugo Garcia, 28 anos, ilustra uma situação pela qual nem ele nem a mulher, a servidora Patrícia Luque, 37, gostariam de passar. "Ter filhos é como pular em uma piscina gelada. Quando se mergulha nela, tenta-se convencer os outros de fora a entrar dizendo: "Como está gostoso aqui", brinca Hugo. Mas o casal não entrou nessa "fria". Casados há cinco anos, não precisaram quebrar a cabeça quanto a ter ou não uma criança em casa.

 

— No começo, falamos sobre isso. Foi um ponto em comum. Eu nunca quis, nunca me vi grávida, e ele também não queria ser pai.

 

A ideia de que a liberdade do casal ficaria por um fio por causa de um bebê é o que mais dá certeza aos dois de que felicidade é permanecer a sós.

 

— Observamos que o assunto do casal que tem filhos é só o filho. Todas as questões da casa são por conta dele. É ele quem dita para onde você vai. Você não pode viajar para qualquer lugar e em qualquer época do ano por causa da dinâmica do filho. É essa responsabilidade que não anima a gente — justifica Hugo.

 

Acordar a hora que quiser, não se preocupar se a geladeira está cheia ou não — eis alguns dos motivos triviais que desestimulam Hugo e Patrícia a dar esse passo. Mas quando perguntam ao casal se a opção por não ter filhos passa pela questão financeira, eles afirmam em uníssono: "Não".

 

— Esse nunca foi um argumento nosso. Até porque crescemos sem muito luxo, da forma que deu. Hoje temos condição financeira de ter filho, ainda que agora esteja um pouco mais apertado porque abrimos uma nova empresa. Por isso, essa nunca foi uma justificativa preponderante — conta Hugo.

 

O educador financeiro Reinaldo Domingos também descarta a "desculpa" da condição financeira quando escuta jovens casais dizerem não ter filhos porque falta dinheiro.

 

— Assim, como ter filhos é uma opção, também é uma opção se preparar e ter reservas financeiras mensais, e isso se faz por meio da educação financeira. Por isso, não se pode tomar a decisão de ter filhos sem antes saber que é demandado, no mínimo, 30% do ganho líquido mensal para proporcionar uma vida saudável e financeiramente sustentável. Acredite, se fizer uma boa faxina financeira em tudo que se consome em casa, certamente encontrará de 20% a 30% de excesso em tudo. Se houver disciplina e perseverança, é possível ter filhos — constata Domingos.

 

Salário versus filho: 2 X 0

 

No Brasil, o grupo dos sem-filhos ganhou uma abreviação, dinc, que quer dizer "duplo ingresso, sem crianças". Trata-se de uma adaptação da expressão em inglês dink, "double income, no kids". Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio (PNAD), em 1996, a família dinc representava apenas 2,7% do total de domicílios, passando para 3,7% em 2006. Um crescimento de quase 90% em uma década. O número de brasileiros que optaram por não ter filhos saltou, portanto, de um milhão para 1,9 milhão no período.

 

Essa fatia da população pode ser ainda maior, indica a Síntese de Indicadores Sociais 2010 (dados de 2009). Dos 62,3 milhões de arranjos familiares no Brasil, 15,2% são de casais sem filhos e sem parentes. Em Santa Catarina, esse percentual chega a 19,9% (maior), enquanto no Amapá é de apenas 9,7% (menor). Em Brasília, a porcentagem chega a 12,6%. Os dados, porém, não são conclusivos, uma vez que não discernem entre arranjos familiares de casais sem filhos e casais cujos filhos já saíram de casa.

 

Um retrato mais apurado da realidade só quando o próximo Censo for divulgado.

Pesquisadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acreditam estar diante de um fenômeno social. Além da família que predominou historicamente — pai, mãe e filhos —, outras formações como a dinc merecem atenção.

 

Segundo a pesquisa A família dinc no Brasil — algumas características sociodemográficas, publicada pela Escola Nacional de Ciências Estatísticas em 2010, os casais sem filhos colocam em xeque os pilares da instituição familiar pois não há continuidade geracional.

 

Esse seria, segundo a pesquisa, reflexo de uma sociedade pós-industrial e pós-moderna. Quer dizer, fatores como a inserção da mulher no mercado de trabalho, a criação de métodos anticonceptivos e o reconhecimento de diferentes tipos de união geram mudanças na família e, por isso, pedem reflexões.

 

A sós e em grupo

São vários os grupos de discussão em redes sociais cujo objetivo é legitimar a escolha dos casais dinc. A rede passou a abrigá-los e um dos casos mais populares é o clube No kidding, fundado pelo professor canadense Jerry Steinberg, casado e sem filhos. Ele também derruba a teoria de que "pessoas que não querem ter filhos odeiam crianças".

 

Pelo contrário, Jerry adora os pequenos, mas não em tempo integral. Em 1984, esse canadense teve a ideia de montar um clube para casais na mesma situação. Tudo começou quando ele passou a sentir falta dos amigos, que se distanciaram após a chegada dos primogênitos. Atualmente, o clube tem mais de 40 filiais espalhadas em quatro países. São aceitos como membros aqueles que não querem ter filhos, os que não podem tê-los e os que estão indecisos.

 

Depois de quase 30 anos, Jerry não está mais à frente da agremiação. Ele se aposentou, mas se orgulha da continuidade do projeto. Ainda hoje, quando o professor canadense escuta que não ter filhos é escolha de gente egoísta, rebate:

 

— É. Mas as pessoas têm filhos por razões bastante egoístas: por prazer, para cuidar delas na velhice, para ter alguém para amar e amá-las de volta, para viver coisas que não puderam viver quando eram crianças, para exercer poder sobre alguém, para dar continuidade ao nome da família. O que é mais egoísta que fazer um mini-eu?" (Confira: www.nokidding.net)

 

Maternidade ou não

 

Da mesma forma, a escritora gaúcha Martha Medeiros, mãe de duas filhas, aconselha as amigas a refletir muito sobre o tema. Questionada sobre o que achava dessa opção, escreveu a crônica Maternidade ou não, publicada no livro Coisas da vida (Ed. L&PM Pocket). "A gente nunca sabe como teria sido se… É por isso que, neste caso, compensa queimar bastante os neurônios antes de decidir. Não dá para pensar no assunto levando-se em conta apenas o momento que se está passando, mas o contexto geral de uma vida. Porque não ser mãe também é para sempre."

 

http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/donna/noticia/2012/03/dia-internacional-da-mulher-historias-de-casais-que-abdicaram-de-ter-filhos-3685178.html

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A Invenção de Hugo Cabret

Faz tempo que não escrevo sobre filmes aqui. Deve ser porque faz tempo que não assistia um filme tão interessante. Estréia nesta sexta-feira, 17 de fevereiro o filme “A Invenção de Hugo Cabret”. Fui na pré-estréia promovida pela Band e Espaço Z realizada nesta quarta-feira.

 

O filme é uma homenagem ao cinema como uma grande fábrica de sonhos. Martin Scorsese (Os infiltrados, Taxi Driver, O Aviador, Touro Indomável) mostra para que serve a tecnologia 3D. Diferente de grande parte dos filmes feitos com essa tecnologia que só jogam coisas na plateia, Hugo traz o expectador para dentro do filme. Existem momentos em que uma névoa encobre as poltronas do cinema e outras em que o protagonista parece se levantar do meio do público e entrar no filme. Não se pode deixar de mencionar as imagens feitas do alto do relógio da cidade luz fazendo parecer que estamos dentro de um cartão postal. Fica a dica para os próximos a utilizarem a tecnologia, 3D tem que ser assim.

 

No filme somos apresentados a Hugo, um menino órfão que vive dentro do relógio da estação férrea de Paris. O pai desse garoto (Jude Law)  era relojoeiro e morreu em um incêndio. Antes de sua morte encontrou um autômato estragado. Hugo vive tentando consertar o autômato para além de ter um amigo, descobrir que mensagem a máquina esta prestes a escrever. Hugo mantém os relógios da estação em funcionamento, trabalho que deveria ser realizado pelo seu tio bêbado desaparecido. Hugo sabe que se os relógios continuarem funcionando ninguém dará falta de seu tio ou notar a presença de um órfão na estação.

 

Um fato curioso mostrado no filme é a recriação do acidente de trem ocorrido na França, no ano de 1895, quando uma locomotiva ficou descontrolada e, em alta velocidade, acabou atravessando a estação de trem. Este acidente deu origem à fachada do parque temático “Mundo a Vapor” em Canela e é pesadelo de Hugo.

 

Mas o filme não conta a história de Hugo, somos levados para a história de George Melies (Viagem a Lua), o precursor dos efeitos especiais no cinema. O gênio foi esquecido e vive como um triste proprietário de uma loja de brinquedos da estação de trem. O cinema, os trens, o autômato e os sonhos começam a ter uma profunda ligação que vai mostrar como truques de mágica viraram efeitos especiais.

 

O elenco é conta também com Sacha Baron Cohen (Borat, Bruno) irreconhecível como o inspetor da estação e Christopher Lee (Star Wars, Senhor dos Anéis) como o dono de uma livraria (os livros, antes dos filmes eram as fábricas de sonhos).

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Valorização

A valorização de um funcionário vai muito além de aumento de salário ou gratificações por produtividade. Quando falamos em valorizar o funcionário a primeira coisa que vem a cabeça é aumentar o salário. Mas e o resto?

O que adianta recompensar monetariamente se a cadeira do funcionário é torta ou desconfortável? O que adianta aumentar o salário se o ar condicionado não funciona direito? Ou quando funciona faz um barulho extremamente irritante. Recompensar o funcionário depois de um certo nível e especialização é mais complexo do que parece.

A pessoa que esta oferecendo seus serviços para a empresa já é bem remunerada, já tem plano de saúde e plano odontológico. O que pode querer mais?

O funcionário quer atenção. Quer ser notado. Quer receber um carinho especial. Quer um prêmio exclusivo. Esse prêmio pode ser desde uma boa vaga no estacionamento até a assinatura de uma revista. Quer ganhar uma folga quando não espera. Quer poder escolher o horário de trabalho ou simplesmente ter uma boa iluminação em sua sala. As vezes ter o material que precisa para desempenhar suas tarefas ou uma limpeza no piso amarelado da sala já é uma forma de valorizar o trabalho de um funcionário.

A falta desse tipo de cuidado pode gerar frustração e o talento pode ser perdido. E como contornar isso?

A conversa do gestor com sua equipe é fundamental. Esse gestor deve sempre estar atento ao que acontece e um passo a frente das necessidades que surgem. Dar parabéns e apertar a mão depois de um trabalho bem feito é uma forma de valorizar. Mas é pouco. Cada funcionário tem suas características e nem todos gostam de brindar vitórias em jogos de futebol ou rodadas de cerveja. Tecnicamente o funcionário pode ser muito bom mas a conversa sobre música sertaneja e futebol o enjoa no almoço. Que tal oferecer um questionário para descobrir os passatempos, hobbyes e gostos do funcionário?

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Verão

Lendo a série do Zero Hora "Houve uma vez um verão" me inspirei para lembrar os verões da minha infância.

 

Minhas lembranças de litoral sempre me levam a Tramandaí nas colônias de férias da UFRGS e do Geraldo Santana com meus avós. A colônia da UFRGS ficava a cargo dos avós maternos e o Geraldo Santa dos paternos. As duas colônias ficam quase lado a lado na avenida da Igreja. E eu na minha cabeça sempre imaginava uma rivalidade entre as duas.

 

Me lembro de uma ida para Tramandaí com destino a colônia da URGS a bordo de um ônibus daqueles de filmes americanos com as malas presas no teto. Na chegada à colônia aquela corrente de mãos para carregar as coisas para dentro. Não sei se foi exatamente assim que aconteceu, mas minha imaginação e minha lembrança marcaram essa imagem. Dessa colônia lembro também da hora do almoço no restaurante. Tinha uma enorme fila para que alguém enchesse o bandejão. Depois do almoço era só dormir na sacada e esperar a hora de ir ao centro passear.

 

Lembro de tardes no hall da colônia em intermináveis jogos de damas, lendo livros da série Vaga-Lume, gibis do Tio Patinhas e fazendo caça-palavras.

 

Pelo lado da colônia do Geraldo Santana as lembranças são outras. Recordo de ter que acordar muito cedo para esperar meu avó passar em casa e rumarmos para Tramandaí a bordo de um Corcel ou de um Del Rey. Mal tinha espaço para mim no banco traseiro. Sempre eu tinha que ir segurando alguma coisa. Íamos bem cedo por causa do Sol na estrada e tomávamos o rumo pela estrada de Viamão para não pagar o pedágio. Acho que era por isso. Não me lembro se todos os dias ou em algum específico mas sempre tinha o compromisso de ir à missa na Igreja que dava nome a avenida no final da tarde. Também tinha os jogos no pátio da colônia e a atenção dada quando se escutava nos alto-falantes o aviso: ATENÇÃO COLÔNIA! ATENÇÃO COLÔNIA! Apartamento XYZ, telefone na portaria. Não eram tempos de celular.

 

Também trago na memória a pesca de sardinha na ponte do rio Tramandaí. Era só jogar a linha com 5 anzóis e puxar carregada com 10 sardinhas. Sem isca. Só com lantejoulas penduradas nos anzóis. Não sei se eram tantas sardinhas assim mas é como lembro. Trago na memória os dias chuvosos que passávamos na sala de TV. Nem todo mundo tinha TV no apartamento. Tinham sessões de filmes em VHS.

 

Do mar? Não lembro. Nunca fui muito chegado a banho de salmora com mãe d`agua. Sempre preferi o chuveirinho da volta.