terça-feira, 30 de setembro de 2008

|Cabeleireiros|

A visita mensal ao cabelereiro para mim é um mal necessário. Não tenho o cabelo dos mais comportados e passado alguns milimetros da medida ideal, a juba já começa a ficar revoltada e a missão diária de pentear o cabelo fica dificultada. Sempre achei o ritual do corte de cabelo uma missão um tanto chata.

Cabelereiras, cabelereiros ou barbeiros. É sempre a mesma rotina com pequenas variações dependendo do local em que se vai ou do sexo do profissional.

Em salões em que as mulheres são as responsáveis pelos cortes, o assunto predominante são novelas ou fofocas das chamadas "celebridades". As revistas na sala de espera são: "Caras", "Contigo" ou "Minha novela". Sempre de três meses atrás.

Em cabelereiros masculinos os assuntos inevitáveis são futebol, política, mulher e tempo.  As revistas vão de "Sexy" a "VIP" não esquecendo do "Diário Gaucho". Mas o assunto que impera é futebol. Impossível ir cortar o cabelo e não falar da rodada do domingo do campeonato brasileiro. O assunto sempre começa com o cabeleireiro tentando nivelar o assunto com a tradicional frase: "E aí? Como foi o teu time?" Dependendo da resposta ele vai descobrir se o cara é gremista ou colorado. Se for do mesmo time o assunto engrena, se for de times adversários o assunto vira discussão ou acaba por ali. Para acabar o assunto vem a frase: "E esse tempo..."

Mas, só pra me fazer ficar surpreso, dias atrás fui realizar o ritual do corte de cabelo. Sentei no poltronão da salão e já fiquei aguardando as indagações sobre o tempo e o meu time quando, na primeira fala descobri que o profissional era castelhano. Seria pior ou melhor o papo do castelhano? Fiquei na espectativa aguardando o que viria.

O castelhano era chileno, já tinha morado na Argentina, no Uruguai e tinha pequenas passagens pela Europa. Veio para o Brasil a uns 10 anos mas mantém o sotaque porque as mulheres gostam. Morava no Rio de Janeiro e veio visitar o Forum Social Mundial em Porto Alegre e nunca mais saiu daqui. Apaixonou-se pela cidade. Conversamos sobre o desenvolvimento dos países do Mercosul, a busca por novas fontes de energias, a inércia do povo brasileiros frente a ineficiencia dos serviços públicos e sobre separatismo. um cabeleireiro diferente, com um papo acima da média dos outros. 

Para quem quiser conhecer, o Chileno corta cabelo na Rua Andrade Neves esquina com a General Câmara tem que perguntar pelo Chileno pois esqueci o nome dele e neste salão devem ter uns 20 cabeleireiros. 

Antes do Fim:

Suposto Alcaide
  • José Fogaça - demorou a dizer que seria candidato a reeleição tanto quanto demorou a fazer alguma coisa na cidade;
  • Manuela - acredito que o PPS vai cobrar por bancar a campanha de uma candidata do PC do B um partido que em Porto Alegre sempre foi sombra do PT e não teria como abraçar sozinho uma candidatura inevitávil. Casoo eleita pode não cumprir todo o mandato para se candidatar ao Governo do Estado;
  • Maria do Rosário - o melhor que o PT deveria ter feito era ter indicado o vice da Manuela;
  • Onyx - Não parece a vontade e tem propostas de difícil implantação. Não combina com a campanha e não tem nada a ver com o seu vice Mano Changes;
  • Marchezan - focou a campanha na saúde. É do partido da queimada governadora do Estado;
  • Carlos Gomes - quer um trem bala até a praia!!!;
  • Vera Guasso - quer fazer greve;
  • Luciana Genro - a mais esforçada. Alisou o cabelo, não esta gritando, esta sorrindo e aparentemente virou simpática. Acredito que é a que mais fez esforços para ser Prefeita. Votaria nela.

17959

terça-feira, 9 de setembro de 2008

|O homem do Avesso|

Picava fumo meio sem jeito naquela hora sebruna;

Era um fumo dos buenos, amarelinho, “flor de tropa” do bolicho velho,

Era um homem dos buenos, bem gaúcho,“flor de tropa” de qualquer galpão.

 

Sua mão ainda ágil deslizava pelo cabo de uma faquinha sem marca,

Mas afiada feito língua de fofoqueira em dia depois de baile.

O fumo, estranha serpente inerte e contorcida, aos pouquinhos ia se

Transformando em um punhado de pequenos mundinhos, pedacinhos

E farelos de odores, sabores, desejos e prazeres ocultos

E a longo prazo de males bem conhecidos.

 

Cada mundinho de fumo parecia matutar:

“-Será palha ou Colomi?”

E o gaúcho nem aí...Dê-lhe faca e dê-lhe dedo!

Talvez picando seus medos nesse longo repetir.

 

Já era o terceiro naco picado assim a preceito,

Talvez abrindo caminho pra esfumacear o seu peito;

Pra fazer toda a fumaça se tornar nuvem no céu...

Mas todo o fumo rumava pra um saquinho de papel.

 

Não fumava, nem mesmo dos fabricados,

mas mesmo assim continuava a picar;”

“-Esse homem é do avesso, não dá pra se preocupar.”

Disseram uns companheiros...

“-Mas é um baita dum parceiro na hora de trabalhar.”

Já remendaram no ato com medo do pau pegar.

 

“-Do avesso é a vó torta!”, respondeu de relancina.

 

No mais ficou em silêncio por uns quilos de minutos,

Picando e picando fumo até outro naco ter fim.

 

Se vieram os companheiros,

Se vieram pra perguntar:

“-Porque picar tanto fumo

Se tu sequer vai fumar?”

“-Sanidade não tem preço...

Ou tu é mesmo do avesso

Ou então quer te mostrar.”

 

Ele respondeu no ato,

Como quem quer vale-quatro

Tendo na mão mais que um ás.

 

“-Ouvi no rádio umas coisas que me fizeram pensar...

Que me tiraram da caixa, me levaram de roldão

E que me deixam surpreso com tanta interrogação.”

 

“-Se tem faca que não corta,

Se tem luz que não clareia,

Se tem gênio que não pensa

E burro que não burreia.”

 

“-Se tem revólver que engasga,

Se tem galo que não briga;

Tem uns esbanjando bóia

E outros roncando a barriga.”

 

“-Me digam sem implicar...

O que é que tem demais picar fumo e não fumar?”

 

“-Se tem gente que se elege pra melhorar a nação

E se esquece do que disse logo depois da eleição;

Se tem pastor que arrecada pra distribuir aos irmãos

E quer sair do país com os pilas no culhão.”

 

“-Se tem polícia mal paga pra cumprir sua função

E por vez desconta a mágoa no couro do cidadão.”

 

“-Se o povo em vez de viver tem desviada a atenção

Porque só sai no jornal mensalinho e mensalão;

Se até no futebol tem juiz que é mesmo ladrão...”

 

“-Me digam sem implicar...

O que é que tem demais picar fumo e não fumar?”

 

“-Se tem ciclone em Torres, tornado em Muitos Capões,

Se o mundo todo desaba com ondas e furacões.

Se isso é fruto de uma espécie que planta devastação,

Suga a terra, cansa o ar e no final lava as mãos...”

 

“-Me digam sem implicar...

O que é que tem demais picar fumo e não fumar?”

 

“-Oigalê, bicho daninho!

Do avesso tá mesmo o mundo...

Eu tô aqui, picando fumo,

Bem quieto no meu cantinho!”


Antes do fim

É. As coisas são assim...


17829