quarta-feira, 14 de setembro de 2005

|Pergunta cretina|

Todos sabem que foi organizado um referendo para 23 de outubro próximo, quando todos os eleitores serão chamados às urnas.
O referendo tem cartas marcadas, uma massiva propaganda institucional partida de Brasília engabelou a opinião pública, com a ajuda da imprensa.
Não foi muito difícil botar nas cabeças das pessoas que as armas de fogo matam.
Intentou-se então a pergunta cretina que será respondida por todos os eleitores: se eles são a favor da proibição do comércio de armas de fogo e munição no Brasil?
Isto é tão cretino quanto perguntar-se se as pessoas são a favor da comercialização do arsênico e da estricnina.

É claro que todos são contra o arsênico e a estricnina. Porque o raciocínio reflexo é de que são venenos. Ninguém vai se lembrar que o arsênico e a estricnina têm também outras mil utilidades que não nada têm a ver com a eliminação de seres vivos, inclusive humanos.
Se se faz um plebiscito calhorda indagando dos brasileiros sobre o arsênico e a estricnina, todos votam contra esses dois letais venenos.
O Brasil então vai cair nesta armadilha e vai votar de goleada a favor do desarmamento.

Aqui no Rio Grande do Sul, apesar do apoio dissimulado e inconvicto da imprensa ao desarmamento, tem chance de ganhar o voto contrário ao desarmamento.
É que proibir o revólver ao gaúcho é como proibir-lhe o chimarrão. Está entranhada na alma do gaúcho a posse de uma arma, o revólver e a faca podem nunca ser usados pelo gaúcho, mas estarão sempre presentes em sua cintura na campanha.
De nada adiantará que os gaúchos votem contra o desarmamento, o resto do Brasil vai votar a favor.

Teremos a seguinte situação a partir de outubro: quando uma pessoa estiver para ser assaltada ou já estiver sendo assaltada, não terá mais como pedir socorro a seus vizinhos.

Todos os vizinhos estarão desarmados. Não é o mais importante, até mesmo porque a grande maioria do povo brasileiro é desarmada.

O mais importante, o fundamental é que a bandidagem, que daqui a cinco anos estará empatada em número, na marcha que vai, com as pessoas de bem, terá então a certeza de que todos estão desarmados.

Quando os ladrões, depois do referendo de cartas marcadas, tiverem a certeza de que todos num edifício, numa rua, num bairro, num rincão, onde é impossível às pessoas que vivem no meio agreste não ter uma arma para defender-se dos animais ou de prováveis assaltantes - quando os ladrões tiverem a certeza de que toda uma cidade e todo um Estado estão desarmados, vai ser uma festa para eles. Nunca vai ser tão fácil roubar, estuprar e assassinar, sem o mínimo risco de que alguém na volta do local do delito tenha uma arma para defender as vítimas.
É fácil adivinhar o que vai acontecer depois do referendo. Os ladrões continuarão armados, até mesmo porque muitos cidadãos de bem se tornarão criminosos, obrigados a aderir ao contrabando de armas e munições. Não é uma tragédia?

Vão proibir as armas, mas assim como a maconha e a cocaína, proibidas, as armas e as munições, contrabandeadas, existirão.

Se a pergunta do referendo fosse honesta ("Você é a favor de que os brasileiros tenham uma arma de fogo em casa para se defender?"), o resultado seria exatamente o contrário do que vai ser.

Mas com pergunta cretina só pode haver resposta incauta.

Texto do jornalista Paulo Sant'ana publicado no jornal Zero Hora de hoje. Concordo e assino embaixo.


Antes do fim:
E eu vou trabalhar de mesário...

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